sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Parabéns a você


Existem inúmeras tradições inquestionáveis no panorama familiar português. Quero aqui incidir sobre aquele ritual específico que decorre durante uma festa de aniversário, demora cerca de 10 minutos e reúne a atenção de todos os presentes. Um bolo, uma garrafa de champanhe e um agregado familiar que aparente boa-disposição parecem-me ser os ingredientes-chave, para que se desenrole um processo, que pode ter tanto de bonito, como de patético.

Apagam-se as luzes e abrem-se as hostilidades com uma espécie de cantoria coral, muito mal afinada, cuja letra remete para o desejo de uma vida próspera e saudável para o indivíduo que se encontra entre os convidados. Este fica sem perceber a sua função ali no meio. Acompanhar o musical, bater palmas, esboçar um sorriso amarelo… existem inúmeras opções. Nenhuma destas torna menos embaraçosa a situação. Ora, já todos lhe deram os parabéns, o que me faz questionar o seguinte. Porquê esta dança tribal em torno do aniversariante, tal e qual o ritual que se faz ao javali, acabado de caçar, em Djambala, algures em África?

Segue-se um combate de copos de vidro, exclusivamente preenchidos com champanhe. “Querem vinho ou qualquer outro tipo de refrigerante? Depois do brinde, se fizerem o favor.” Aparentemente, aqui, qualquer outro tipo de bebida utilizada para brindar, é um insulto para com o aniversariante. Recapitulando: copos de vidro, ali, à bruta, uns contra os outros. Para ver se se provoca um acidente grave, em que alguém termina com um projéctil de vidro no olho.

Para finalizar, um bolo, muitas vezes comprado no Pingo Doce, e cujo chantilly aparenta ter a idade de um avô que passa a tarde a acompanhar o “Portugal no Coração”, à espera de saber qual o próximo pastel que José Carlos Malato vai ingerir. Muito mais confortável, na minha opinião.

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